26 de nov. de 2016

Sociedade industrial

    Formigas! É realmente como formigas que nos esbarramos, como nos mais realistas dos sonhos; é como formigas que nos organizamos em sociedades acéfalas e mecânicas, construindo formigueiros à luz de ordens que se transvestem de instintos. Vidas automáticas, incontestadas, irrefletidas. Nas fileiras da escola me sentei, ao banheiro pedi para ir, a provas padronizadas e cronometradas me submeti. Fui instrumento tolo para o meio que não toma o homem como fim. Séculos! Séculos de ordens, ordens lá de cima, "ordens lá de cima", diziam! É proibido questionar. Na escola, no lar, na igreja. E mesmo os refúgios históricos e geográficos, quando houve momentos e lugares onde foi possível impugnar-se das verdades implícitas, do totalitarismo não dito — mesmo estes recantos tão arduamente conquistados e tão comumente desqualificados são apenas lampejos de clareza, centelhas fracas e efêmeras de lucidez, insuficientes diante da hegemonia da ignorância. As pessoas estão cegas, cegas! E o que elas são incapazes de enxergar é exatamente a escuridão absoluta. Cegas por sua própria lente de mundo, projetando Lúcifer umas nas outras e vendo a figura europeizada de Jesus Cristo quando se olham ao espelho. Para sobreviverem no caos organizado pelo lucro, as pessoas ignoram seu próprio lado humano para que possam atender as exigências de um mercado impiedoso, e, finalmente industrializadas, sorriem, com a alma doente: "Sou bem sucedido."