29 de nov. de 2016

Controle

    O barulho de meus pensamentos é o mesmo de um engarrafamento. As ideias encadeiam-se, tumultuam-se, constrangem-se; egoístas como são, cada uma suga para si toda a atenção que deveria ser depositada em outro lugar ou mesmo em outro momento: no presente. Não sei se dizer se por duas décadas estes impulsos de distração espreitavam nas sombras de uma razoável eficiência escolar, advinda mais de uma facilidade espontânea do que de uma efetiva luta contra a preguiça, e só agora os pude perceber, ou se são coisa nova, efeitos colaterais de uma percepção mais ampliada e amadurecida pela exposição à aporia filosófica. Ambas as alternativas me parecem igualmente possíveis, embora algo me diga que para acreditar na segunda seria preciso ser mais ingênuo, ou ao menos desconhecer nossa monstruosa capacidade de escondermos de nós mesmos nossas próprias limitações agudas.
    Nunca me passou pela cabeça cogitar ser ansiedade. Ela, que é tão frequente que chega a ser quase banal, talvez seja exatamente o que me esmaga contra minhas próprias expectativas. É uma inaptidão quase absoluta de me devotar a atos monotônicos, que por sua própria natureza exigem que eu deixe de lado a minha velha companheira, a impaciência; pois ainda maior que o tédio é a erupção de possibilidades, e uma vontade explosiva de concretizar cada uma delas — explosiva justamente porque estoura e se dissipa segundos mais tarde. E, assim que o faz, deixa um vazio surdo precisamente como o que se segue: